Post

Big Data e as análises na predição de crimes e fraudes

Projetos para predição de crimes usando tecnologias Big Data estão em franco desenvolvimento em todo o mundo. Basicamente, coletar grandes quantidades de dados e analisá-los, gerando inteligência e base para decisões. Compreendeu-se, lá fora, que a questão é estratégica e envolve não apenas segurança pública mas defesa nacional. O sucesso no esclarecimento de crimes com base em câmeras de vigilância é apenas uma pequena ponta do que grandes volumes de informações geradas e tratadas podem fazer no que tange à inteligência. O Governo Obama tem despejado muito dinheiro em programas desta natureza.

O que nas telas de Minority Report só seria tecnologia para 2054 já é realidade em Los Angeles e nos Estados de Maryland e Pensilvânia. Detalhes de mais de 60 mil crimes são utilizados para traçar padrões e tendências futuras. Na Polícia de Los Angeles, 80 anos de crimes foram mapeados e com a utilização de um algoritmo para previsão de terremotos, fora possível descobrir onde um novo crime pode ser cometido, em um raio de 500 metros do crime anterior. No Reino Unido, a Scotland Yard já trabalha em projeto similar no departamento de ciência de crime na University College, em Londres. Os testes representaram redução de mais de 25% na criminalidade.  Cidades como Memphis e Nova York conseguiram reduzir em até 30% seus incidentes.

Tecnologias, sistemas, algoritmos e aplicativos são os precogs contemporâneos, uma alusão aos personagens do filme mencionado, capazes de prever incidentes.

Recentemente, um modelo computacional desenvolvido pela Universidade da Califórnia, em parceria com o Departamento de Polícia da Cidade de Indio, tem chamado a atenção dos cientistas da informação e analistas. Com a revisão de dados de 10 anos de crimes, aliados a estatísticas do censo nos Estados Unidos e dados de evasão escolar, fora possível não só descobrir a relação entre tais dados, até então desestruturados, mas principalmente prever crimes. O projeto, comandando pelo sociólogo Nash Robert Parker, chegaria a 93% de exatidão.

Em apertada síntese, a central compara registros de criminalidade com outros dados, como o registro de evasão escolar. Fora possível identificar que os assaltos seguiam as evasões escolares, um ou dois anos mais tarde. Cavando os dados, identificou-se os alunos onde os funcionários das escolas tinham enviado mais de cem cartas sobre ausências. Alerta vermelho! Segundo a mídia especializada, foi possível, com o poder estatístico do Big Data, fazer previsões e descobrir a “relação vadiagem-roubo”.

Desde que passou a ser utilizado na cidade de Indio, com pouco mais de 70 mil habitantes, a criminalidade sofreu uma redução de 8%. O trabalho proporciona um efeito dissuasor, pegando autores no “ato”, ou com a intensificação de rondas e programas preventivos.

O grande problema é que algoritmos são criados por humanos, que são falhos. Não resta dúvida que a tecnologia vem sendo considerada uma ferramenta valiosa para a prevenção ao crime, mas e nas mãos erradas, o que teremos? Qual o custo para os diretos fundamentais do cidadão? Estamos destruindo o conceito de livre-arbítrio prejulgando intenções? Não resta duvida que projetos desta natureza, seja na iniciativa pública ou privada, precisarão de revisão sob o prisma legal, atentando para as questões de privacidade locais e globais e para a não concepção de tecnologias intrusivas.

Falsos positivos podem violar direitos, o que pode provocar responsabilizações judiciais. Estas são apenas algumas reflexões sobre o conceito tratado, onde muito ainda será discutido.

No Brasil, não se tem dados públicos de projetos desta natureza em grandes proporções, o que nos coloca na retaguarda em termos de inteligência cibernética, considerando que muitos dos incidentes, relacionados a diversos órgãos,  poderiam ser precedidos de alertas prévios, com análises em tempo real, por meio da montagem de um banco dados de incidentes, que cruzando outras múltiplas informações, poderia possibilitar adoção de ações preventivas em face de possíveis ou prováveis fraudes.

Análises preditivas são hoje serviços disponíveis a qualquer empresa, da pequena a grande, mas que exigem cuidados, na implantação e operação, que podem significar o sucesso ou fracasso de um projeto. A questão é, poderiam criminosos ou fraudadores mudarem seus “padrões” quando descobrirem a existência de programas como esse rodando? A resposta não temos, mas já sabemos de uma premissa: Um projeto desta natureza não é daqueles em que você simplesmente “instala e esquece”.

Fonte: http://itweb.com.br

José Antônio Milagre é Perito e Advogado especializado em Tecnologia e Segurança da Informação